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Cristiane

Querido diário, és o ano de 1895, estou deveras contente por estar em uma nova residência. De fato vovó Lacerda sempre diz que fui agraciada em nascer em berço de ouro. Esta é a primeira casa de alvenaria da cidade(Lapa/PR), papai (Manoel Correa de Lacerda) disse que eu teria um quarto só pra mim. O que considerei maravilhoso, pois não suporto lidar com meu irmão que vive a gabar-se de um dia herdar o comércio da família. Eita piázinho mimado! Quero conhecer cada cantinho desta casa nova para que como diria mamãe _Saiba onde está e nunca se perderá_ Afinal de contas são muitos os aposentos desta casa e colossal. Até agora contei 14 peças, mas minha cuidadora diz ter 16 cômodos. Sinceramente ela deve estar um tanto senil, mas admito que sempre se mostrou muito sagaz, como no caso do jovem ladino filho do jardineiro. Por ter surrupiado um punhado de sementes e ser sido expulso de nossas propriedades, papai garantiu ao piá uma surra de vara caso ao menos tornasse os olhos para estes lados novamente. Todavia ele não deve ser certo da cabeça, pois eu percebo que no seu caminhar sorrateiro ele sempre campeando seus olhos castanhos para estas bandas e até sorri de revesgueio quando caso me veja. Abusado! Não pense ele que lhe darei trela. Mesmo que seu castanho seja tão lindo quanto o mel das jataís. Dona Inês minha cuidadora, tem dito já está na hora de eu aprender a cozinhar nem que seja um pinhão no fogão à lenha. Não gosto de cozinhar, mas admito ficar por perto para ter o prazer de ser a primeira a tirar uma lasquinha do bolo de fubá ainda morno. Hum, delícia... Querido diário, me despeço gentilmente de mais este dia como os hibiscos despendem-se do entardecer ansiando por mais um raio da manhã com novas aventuras e oportunidades, até amanhã...

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